Especialista em economia internacional avalia o impacto da crescente entrada de produtos chineses no Brasil

Cenário preocupa sobretudo setores de aço, calçados e automóveis, que sentem os efeitos da competitividade agressiva

Empresários e entidades do setor industrial brasileiro estão demonstrando crescente apreensão com o aumento das importações de produtos chineses, que vêm pressionando a produção local e ameaçando o avanço de investimentos no país. O movimento é visto como uma possível “avalanche” de itens vindos da China, com potencial para causar desequilíbrios em diversos setores da economia nacional.

Em um documento divulgado pela Casa Branca, o governo do presidente Donald Trump reconhece que algumas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos chineses podem chegar a até 245%. Esse número inclui cerca de 125% referentes a medidas de retaliação mútua, 20% ligados à crise envolvendo o fentanil, e até 100% de impostos adicionais sobre determinados produtos — embora o governo americano não tenha especificado quais bens estão sujeitos à alíquota máxima mencionada.

O cenário preocupa principalmente setores como o de aço, calçados e automóveis, que já sentem os efeitos da competitividade agressiva dos produtos asiáticos. Segundo líderes industriais, os fabricantes chineses operam com forte apoio estatal e políticas voltadas para a exportação em massa, o que compromete as condições de concorrência.

A preocupação se intensifica à medida que a guerra comercial entre China e Estados Unidos ganha novos capítulos. Nos últimos anos, os EUA vêm adotando uma série de medidas protecionistas contra produtos chineses, como tarifas elevadas e restrições tecnológicas, o que tem levado Pequim a buscar novos mercados para escoar sua produção. Nesse contexto, países como o Brasil tornam-se alvos naturais para o redirecionamento dessas exportações.

Segundo Luciano Bravo, CVO da  Inteligência Comercial, os fabricantes chineses operam com forte apoio estatal, custos subsidiados e políticas agressivas de exportação, o que compromete gravemente as condições de concorrência. A prática, muitas vezes classificada como “dumping”, reduz artificialmente os preços dos produtos, dificultando a sobrevivência de empresas brasileiras no mercado doméstico.

O impacto pode ser ainda mais profundo. Estimativas da Coalizão Indústria indicam que até R$ 500 bilhões em investimentos planejados para os próximos anos podem ser adiados ou cancelados caso o Brasil não adote medidas eficazes para equilibrar a balança competitiva.

Luciano Bravo, CVO da Inteligência Comercial, destaca que o problema não está apenas na competitividade dos produtos chineses, mas também nas limitações enfrentadas pelo Brasil para fomentar sua própria indústria.

“Enquanto a China financia a inovação e a infraestrutura com crédito abundante e barato, o empresário brasileiro lida com juros elevados e dificuldade de acesso a financiamento. Isso compromete o nosso potencial produtivo e nos torna vulneráveis a ondas de importação”, afirma Bravo.

Segundo Bravo, a diferença de políticas públicas voltadas à industrialização é gritante. “Lá fora, a indústria é uma prioridade estratégica. Aqui, ainda lutamos para tirar burocracias do caminho e melhorar a previsibilidade para quem investe”, completa.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também entrou no debate, defendendo reformas estruturais que fortaleçam o ambiente de negócios. A entidade sugere ações que vão desde a simplificação tributária até investimentos em logística e infraestrutura, elementos essenciais para tornar o produto nacional mais competitivo dentro e fora do país.

Diante desse panorama, especialistas alertam para a necessidade de um plano de ação articulado. A manutenção de empregos e o crescimento da indústria dependem diretamente da capacidade do Brasil de enfrentar esse desafio com agilidade e estratégia.

  • Notícias relacionadas

    Mãe empreendedora: Cristina Boner fala sobre equilíbrio entre maternidade e carreira

    Neste Dia das Mães, a data serviu para além da celebração da afetividade e do cuidado materno: também é uma oportunidade de reconhecer mulheres que transformam o mundo ao conciliar…

    Mudanças no mercado imobiliário impulsiona busca por crédito internacional

    As novas regras de financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF), implementadas em novembro do ano passado, estão provocando uma transformação significativa no mercado imobiliário. A redução das cotas de financiamento…

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *