
“Pensem muito bem na vida de vocês. O jogo é de azar, não de sorte. Você não vai ganhar, você vai perder!”, alerta a psicanalista, Dra. Taty Ades
A CPI das apostas, em andamento no Brasil, traz à tona questões preocupantes sobre o impacto da propaganda de jogos de azar e sua relação com a ludopatia. Durante o depoimento de influenciadores como Virgínia, que promoveu jogos como o “Tigrinho” para seus milhões de seguidores, ficou claro que a influência digital pode ser um fator de risco significativo. De acordo com a psicanalista Dra. Taty Ades, essa prática não é apenas uma questão ética, mas uma questão de vida ou morte, visto que as apostas podem desencadear vícios perigosos e até fatais.
A Dra. Taty explica que o fenômeno da ludopatia vai muito além do simples ato de jogar por diversão. “Quando a pessoa se vicia em jogos, ela não consegue mais parar. O vício não está apenas em ganhar, mas também na adrenalina da perda e do retorno incessante ao jogo, como um ritual. Isso gera uma obsessão que afeta gravemente a vida social e mental da pessoa”, afirma. Ela detalha ainda que, assim como no vício em álcool ou drogas, o ludopata se vê preso a um ciclo de ganhos e perdas, sempre em busca da próxima dose de dopamina, o que torna difícil escapar desse ciclo.
Pesquisas sobre ludopatia corroboram essas afirmações, mostrando que o vício em jogos de azar é uma condição séria, com impactos profundos na saúde mental. Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP) revelou que, entre os jovens, o número de casos de transtornos relacionados a apostas aumentou em 48% nos últimos cinco anos, com uma porcentagem significativa relatando sentimentos de depressão e ansiedade como resultado da perda de dinheiro em apostas online.
No caso de um estudo recente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mais de 50% dos adolescentes que participaram de jogos online relataram sentir-se emocionalmente abalados quando perdiam, com muitos afirmando que a perda de dinheiro os deixava extremamente deprimidos, alguns até chegando a expressar pensamentos suicidas, como descrito pela Dra. Taty ao relatar o caso de uma jovem de 16 anos que tirou sua própria vida após perder o controle sobre o vício em jogos.
A crítica da Dra. Taty Ades aos influenciadores que promovem jogos de azar é contundente. Para ela, esses profissionais da comunicação, que possuem milhões de seguidores, não são apenas responsáveis por divulgar produtos, mas também por reforçar comportamentos prejudiciais. “Eles estão legalizados pela lei, mas a sua moralidade está em jogo. Estão ganhando dinheiro com a destruição de vidas. Um jogo de azar não é uma questão de sorte, é uma questão de perda inevitável”, alerta. A psicanalista observa que, muitas vezes, esses influenciadores vendem uma ilusão de sucesso e riquezas rápidas, sem mostrar os danos psicológicos e sociais que os jogos podem causar.
O Brasil está, atualmente, debatendo se deve regulamentar ou não os jogos de azar no país, e a CPI das apostas pode ser uma janela para discutir o papel dos influenciadores na promoção desses vícios. A psicanalista também destaca a importância de figuras públicas, como o influenciador Felca, que se posicionam contra a prática, combatendo a normalização dos jogos de azar nas redes sociais. “Esses influenciadores podem ser como demônios, oferecendo produtos e promessas que causam sérios danos às pessoas, especialmente àquelas mais vulneráveis. Pensem muito bem na vida de vocês. O jogo é de azar, não de sorte. Você não vai ganhar, você vai perder! ”, conclui.
Em um contexto de crescente normalização do vício em jogos, é essencial que a sociedade esteja atenta ao poder que essas figuras exercem sobre seu público e à necessidade de regulamentação urgente para evitar que o mercado de apostas online continue a atrair mais vítimas.