O paradoxo da tecnologia na saúde: menos burocracia, mais tempo para o cuidado

Por Eduardo Nunes**

O simbolismo da burocracia na saúde brasileira ainda é uma realidade cotidiana. Profissionais da área sobrecarregados, formulários extensos, processos manuais e filas de espera, sobretudo nos postos de saúde, são características que tornam o acesso ao atendimento demorado e exaustivo. Como falar em cuidado humanizado, um termo da moda, se ainda há tanto para mudar?

A boa notícia é que a transformação digital, especialmente após a chegada da inteligência artificial, tornou-se uma aliada poderosa para mudar essa realidade. As ferramentas disponíveis no mercado podem esclarecer dúvidas, traduzir termos técnicos e sugerir planos de cuidado sob medida, tornando a jornada de saúde dos pacientes (e de trabalho dos profissionais) mais compreensível, segura e acolhedora. 

De acordo com um levantamento da Medscape, 62% dos profissionais da saúde apontam a sobrecarga de tarefas repetitivas como um dos principais motivos para o esgotamento. Na recepção, isso significa menos tempo para acolher com atenção e mais desgaste com agendamentos e confirmações de consultas e exames. Porém, hoje, a tecnologia já permite automatizar esses processos: com soluções que integram informações dos agendamentos e triagens, é possível otimizar o fluxo de atendimento e garantir uma melhor experiência ao paciente. E o resultado disso são equipes mais disponíveis para cuidar e pacientes satisfeitos desde o primeiro contato. 

Sempre ouvimos que a tecnologia poderia afastar o olhar humano do atendimento, o que pode ser verdade em caso de má administração. Mas, na prática, o que vemos é o contrário: usada com inteligência, a tecnologia está permitindo resgatar a atenção e a escuta que o cuidado humanizado exige.

Os efeitos dessa transformação já são visíveis. Em clínicas que adotaram a inteligência artificial, os índices de burnout entre os profissionais de saúde têm diminuído. Na rede norte-americana Kaiser Permanente, por exemplo, 74% dos médicos relataram sentir-ser mais presentes nos atendimentos após a adoção de plataformas machine learning, ou seja, aqueles sistemas que “aprendem” os dados ao longo do tempo, sem a necessidade de reprogramação. Na saúde, a IA pode aprender a reconhecer a voz do médico e interpretar termos clínicos através da repetição.

No Brasil, essa percepção também cresce entre os gestores. Uma pesquisa da PwC Brasil revelou que 68% dos diretores de hospitais acreditam que a tecnologia será o principal fator de transformação nos próximos três anos. Para a maioria, ela tornará o sistema de saúde mais eficiente e ajudará na democratização do acesso aos tratamentos. 

Mais do que uma tendência, o uso da IA é um recurso essencial para resgatar o que o cuidado em saúde tem de mais valioso: o tempo dedicado às pessoas. Automatizar o que é repetitivo não significa desumanizar. Pelo contrário, é uma forma de devolver aos profissionais de saúde.

**Eduardo Nunes é fundador e CEO da WellonCom quase 30 anos de experiência no setor de tecnologia, é responsável por liderar as áreas de vendas, mercado e relações com investidores. Formado em Ciência da Computação pela UFBA, possui MBA em Gestão de Projetos pela FGV e já ocupou cargos de liderança em empresas como N2 Soluções, além de ter atuado como professor universitário e diretor de tecnologia da Prefeitura de Feira de Santana.

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